quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

EDUCATIVO DO ARQUIVO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL

            Localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, o Arquivo Público do Rio Grande do Sul é o responsável pela preservação e manutenção do acervo arquivístico do estado. Para tanto, são realizadas “atividades que vão desde a recuperação e encadernação de documentos; disponibilização de sala de microfilme de segurança; elaboração de instrumentos de pesquisa; organização e descrição de acervos; informatização; estudos históricos; além de atendimento ao cidadão e aos pesquisadores.” (Informações retiradas do site da APERS). O Arquivo está aberto ao público e recebe pesquisadores mediante agendamento.
         Quanto ao setor educativo, são realizadas visitas guiadas mediante agendamento. Para turmas escolares de ensino fundamental, o APERS aplica a Oficina de Educação Patrimonial "Os Tesouros da Família Arquivo", da qual pudemos participar durante nossa visita. O objetivo da oficina é despertar a curiosidade e interesse dos alunos para o patrimônio, a memória, a identidade e a cidadania através dos documentos arquivísticos da própria instituição. As turmas fazem o reconhecimento da instituição através de uma apresentação de Power Point e, após, são encaminhados para uma sala para uma apresentação de teatro de fantoches. As personagens precisam fazer uma pesquisa sobre seus ancestrais e fazem perguntas aos avós, que repassam seus conhecimentos, na intenção de valorizar os depoimentos e a história. 
          Após, os monitores dividem a turma em grupos de até quatro pessoas e inicia-se, então, a caça ao tesouro. Cada grupo recebe uma caixa contendo uma pista inicial que deve levar a uma das estantes dos três andares do Arquivo. Ao todo são cinco pistas que devem ser levadas de volta para a sala, a fim de serem compartilhadas com todo o grupo. Em nossa oficina buscamos as caixas sobre a Escravidão no Rio Grande do Sul, mas também há caixas sobre Gênero e sobre a Ditadura Militar. Dentro das caixas sobre o período da escravidão são tratados vários temas, como: cartas de alforria, compra e venda de escravos, testamentos, inventários e processos crime.
         Nosso grupo ficou com a caixa de alforria. Nela continham réplicas de documentos reais do APERS de cartas de alforria. São quatro personagens de diferentes idades, procedência, anos de trabalho escravo e formas de libertação. Cada personagem contém um desenho de sua personificação, pois, segundo os monitores, dar cara ao personagem o torna mais humano aos alunos.
           Sem dúvida esta atividade proposta pelo APERS aumenta o aprendizado e a curiosidade dos alunos, que descobrem o longo processo de pesquisa documental que está por trás dos livros didáticos utilizados nas escolas.

[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 30/11/2017]

CONHECENDO A FUNDAÇÃO VERA CHAVES BARCELLOS

No centro de Viamão, a Fundação Vera Chaves Barcellos é uma entidade cultural, privada e sem fins lucrativos, criada no ano de 2005 com a missão de pesquisar, preservar e difundir principalmente as obras da artista Vera Chaves Barcellos, mas também de contribuir para divulgação de obras e exposições de outros artistas e curadores de arte contemporânea.


A Sala dos Pomares abriga as exposições regulares e gratuitas, e a equipe da Fundação realiza atividades paralelas que fomentam o debate sobre a arte contemporânea. Além disso, a FVCB conta com um prédio anexo de Reserva Técnica, com todos os cuidados necessários para a preservação de seu acervo. Com o aumento do acervo documental, foi necessária a criação do Centro de Documentação e Pesquisa, localizado em Porto Alegre, que está disponível para pesquisa pública de livros, catálogos e outros suportes sobre a arte contemporânea. Os prédios são envoltos por vasta área livre com muitas árvores frutíferas plantadas pelos próprio funcionários, além de instalações de artistas contemporâneos que têm profunda relação com a natureza e o meio.


A exposição que vimos, intitulada e de curadoria de Ío (Laura Cattani e Munir Klamt), “refere-se ao equilíbrio de duas partes de uma fórmula. A concisão do título tem dupla função: almeja a ideia de síntese, ao mesmo tempo em que busca justapor, em equilíbrio, partes que parecem inicialmente opostas em um sistema: o peso e a leveza; o acaso e a ação consciente; a paisagem e a propriocepção; a clareza e a indefinição.” (Informações retiradas do site da FVCB). As obras provém tanto do acervo da FVCB quanto de outros museus e coleções particulares, que com suas diversas materialidades compõem o significado da exposição.
A Fundação possui um Programa Educativo voltado para educadores, estudantes e público geral a fim de aproximá-los com a arte contemporânea. Para tanto, realiza visitas mediadas à Sala dos Pomares, propõe o Curso de Formação Continuada em Artes e produz materiais educativos que auxiliam as práticas pedagógicas. Estes recursos do educativo potencializam a experiência do visitante com as exposições, considerando que a arte contemporânea é, sobretudo, abstrata e sensível.


Site da Fundação Vera Chaves Barcellos: http://www.fvcb.com/

[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 16/11/2017]

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

BIODIVERSIDADE NA FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO RS

   A biodiversidade compreende todos os organismos e seres vivos que compõem e equilibram o mundo natural num rico e complexo sistema. A WWF afirma que para entendê-la é preciso considerar "todas as formas de vida, assim como os genes contidos em cada indivíduo, [e os] ecossistemas, na qual a a existência de uma espécie afeta diretamente muitas outras".
      Aqui no estado há uma enorme variedade de biomas e espécies de plantas e animais, sendo alguns de seus símbolos naturais o pássaro quero-quero, o brinco-de-princesa, e não poderia faltar a árvore de erva-mate. Toda essa biodiversidade é de responsabilidade da Fundação Zoobotânica do RS, órgão público importantíssimo na pesquisa, conservação e divulgação através da educação ambiental. Algumas das atividades exercidas pela Fundação: pesquisa e inventariação da fauna e flora, recuperação e resgate da flora, estudos de fósseis. Além disso, é responsável pelo cuidado e manutenção do Zoológico de Sapucaia do Sul, do Jardim Botânico de Porto Alegre e do Museu de Ciências Naturais, e nesses espaços realiza uma série de atividades educativas e culturais voltadas para diversos públicos.
       No âmbito do museu, a cada última quinta-feira do mês é promovido um curso de formação para professores interessados em trazer suas turmas posteriormente ao museu. Neste curso são apresentados a história dos museus num panorama mais abrangente, desde o Mouseion e gabinetes de curiosidade, até chegar no cenário de museus brasileiro. O museu faz questão de desconstruir a ideia de museu como lugar de coisa velha que infelizmente ainda é muito comum até mesmo entre professores. Apresenta, por último, programas educativo-culturais realizados pelo museu ao longo do ano, como por exemplo o "Ciência na Praça" e o "Museu vai à Escola", possibilitando às turmas que não possuem condições de ir até o museu também possam ter uma boa experiência. Também são ofertados cursos especialmente aos professores para que possam aplicar os conhecimentos em sala de aula.
      Os esforços do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica devem ser reconhecidos e devem servir de inspiração, mesmo em meio às dificuldades políticas e as ameaças de fechamento os funcionários persistem e acreditam no potencial e importância da instituição para o Rio Grande do Sul. 
       A Fundação Zoobotânica tem o apoio dos alunos do curso de Museologia da UFRGS.


[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 26/10/2017]

RECONSTRUÇÃO DOS MUSEUS E DO OLHAR DO VISITANTE

        Na Museologia falamos muito de patrimônio histórico e cultural, mas pouco abordamos sobre o patrimônio natural, ou mesmo museus de ciências naturais, tipologia que particularmente acho muito interessante e gostaria de ter maior contato.
      A partir da segunda metade do século XIX com a criação do conceito de "ecologia", os museus precisam ser reconceituados e adaptados a partir de novas disciplinas científicas, pois surge uma necessidade de ir além dos inventários e da catalogação de objetos, considerando também os processos naturais e sociais que envolvem estes objetos, mudando o ponto de vista do fim para os meios. Nesse sentido surge o conceito de patrimônio intangível no qual a Ciência se aplica. A partir de 1930 surgem os centros de ciência em contrapartida aos chamados "antimuseus" que continuavam com a premissa de que os objetos são mais importantes que o processo de pesquisa que os envolvem.
       Atualmente os museus de ciências também são constantemente vinculados com a tecnologia, termo que confunde muitos profissionais de museu, uma vez que muitas dessas instituições consideram apenas aparatos tecnológicos sem levar em conta os processos científicos. Não que a tecnologia seja inimiga dos museus, muito pelo contrário, mas é importante deixar claro que os estudos científicos demandam tempo e esforço que não devem ser desmerecidos ou esquecidos com a rapidez do touchscreen. 
       Outra questão que envolve os museus de ciências naturais são os conceitos de autêntico e réplica, que se diferem das demais tipologias de museus. Em escavações arqueológicas, por exemplo, é muito comum que se encontrem apenas pequenos fragmentos de um objeto ou ser vivo muito maior, e é a partir desse fragmento que se fazem os estudos. As reconstruções são muito importantes tanto para a pesquisa científica quanto para a compreensão e visualização do visitante leigo. O problema reside na omissão do uso de réplicas, dando a entender que aquilo que se vê no museu é, na verdade, o original.
        Nesse sentido, a educação em museus é essencial para tensionar o olhar do visitante para essas questões e questioná-lo, para que não observe apenas o objeto mas sim toda a cenografia que compõe a exposição do museu.


REFERÊNCIA

VAN-PRÄET, Michel. A educação no museu, divulgar "Saberes Verdadeiros" com "Coisas Falsas". In: GOUVÊA, G.; MARANDINO, M.; LEAL, M.  C. (Orgs.). Educação e museus: a construção social do caráter educativo dos museus de ciências. Rio de Janeiro: Access, 2003.

[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 05/10/2017]

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

OS OBJETOS MUITO ALÉM DA MATERIALIDADE

O primeiro livro relacionado a museus que li foi "A danação do objeto", de Francisco Régis Lopes Ramos, quando estava no ensino médio. Não entendi nada e me perguntei se deveria mesmo cursar Museologia. Hoje, com 5 anos de experiência, vejo que o texto é, na verdade, muito básico. Todo museológo deve saber que um objeto de museu perde sua função primordial e adquire novos valores ao ser musealizado.
As ações educativas têm importante papel na relação entre visitante e objeto, criando formas de aproximação entre os dois levando em consideração as necessidades socioculturais em que o público vive. Mais do que isso, uma exposição por si só já deve suscitar questionamentos e reflexões, o que Paulo Freire chama de "pedagogia da pergunta".
Questionar o presente e as relações estabelecidas com objetos do cotidiano permitem uma melhor compreensão do passado e das escolhas de preservação. É problematizar o passado através do presente, pois o passado não é uma história finita sem conexão com o hoje.
Em uma ação educativa proposta em aula, sorteamos um objeto corriqueiro como boné, cuia para chimarrão, artesanato indígena, entre outros. De que formas podemos transformar um simples objeto em reflexões sobre a atualidade? No nosso caso, o artesanato indígena sorteado pode trazer várias questões sobre a realidade das tribos nos dias atuais, consequência do que foi vivido no passado.
                        
                            
                                  REFERÊNCIA
RAMOS, Francisco Régis Lopes. A danação do objeto - o museu no ensino de História. Chapecó: Argos, 2004. p.19- 36; 129-146.

[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 21/09/2017]

terça-feira, 24 de outubro de 2017

EDUCAÇÃO EM MUSEUS: MUDANÇAS DE PENSAMENTO

         A educação em museus parte de um processo evolutivo que está ligado com a criação dos museus públicos, lá no século XVIII. Quando os museus ainda davam seus primeiros passos, o acesso às obras e objetos exóticos era privilégio apenas da elite. O movimento nacionalista que ocorreu na França deu início aos museus abertos ao público em geral, como foi o caso do Louvre. O objetivo de abrir as portas era educar não só a elite, mas todo o povo.
      Aqui no Brasil o Museu Real surge inicialmente para atender apenas pesquisadores e estudiosos, em 1818. Mais tarde, ainda no século XIX, descobre-se o potencial que as exposições têm para complementar no ensino escolar, e então o museu amplia a variedade de visitantes. Isso acontece principalmente por iniciativa republicana, uma vez que um povo educado teria maior consciência política. No entanto, é preciso destacar que aqui o processo educativo se caracteriza como um efeito disciplinar e que não leva em conta a bagagem cultural e individual do visitante. Em 1911 percebe-se a complementaridade entre museu e escola e é criado, então, um projeto de museu escolar, prática que já era bastante comum em países europeus.
     Essa nova forma de entender o papel do museu permitiu vários aprimoramentos no Museu Nacional, e em 1932 foram contabilizados 2282 alunos que frequentaram a sala de conferência do museu, número que é bastante alto se considerar o acesso à educação da época.
           Hoje a percepção de educação em museus é muito mais aprofundada e vai muito além de ações educativas e atividades lúdicas realizadas durante uma exposição, mas é interessante perceber que desde sempre a educação foi uma preocupação dos museus, mesmo com seu caráter disciplinar.


                                              REFERÊNCIA

KOPTCKE, Luciana Sepúlveda; LOPES, Maria Margareth; PEREIRA, Marcelle. A construção da relação Museu-Escola no Rio de Janeiro entre 1832 e o final dos anos de 1927. Análise das formas de colaboração entre o Museu Nacional e as instituições da educação formal. XXIV Simpósio Nacional de História, 2007. 

[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 14/09/2017]

segunda-feira, 3 de julho de 2017

MAIS HISTÓRIAS, MAIS PETRÓPOLIS

        Chegamos ao segundo e último dia de coleta de histórias com os moradores do bairro Petrópolis. Entrevistamos a professora Marília, 49, e o Seu Rolf, 69, uma geração de diferença entre os dois, mas as lembranças são igualmente lindas!                
Ficamos muito impressionados com o material trazido pelo Seu Rolf! Infelizmente não pude acompanhar toda a entrevista, mas vi que foram trazidas muitas fotografias e documentos nunca antes vistos, desde as primeiras construções do bairro e a caixa d’água, tão importante para ele. Apesar de não residir mais no bairro desde a demolição da casa em que viveu a vida toda, até 2012, é nítido que o coração de Seu Rolf ainda está em Petrópolis. Dizem que quem vai embora sempre quer voltar.
           Essa dedicação em trazer informações pertinentes para a preservação do bairro é que nos inspira a fazer um bom trabalho. E conversa foi muito além de Petrópolis. Marília deixou clara a importância de um bom transporte público na cidade para ocupação dos bairros para quem não reside nas proximidades. Seu Rolf nos mostrou como é importante falar, falar e falar muito, relembrar todos os traços de infância que são tão preciosos na nossa construção enquanto cidadãos.
           Uma conversa tão agradável daquelas que dá um aperto de saudade dos avôs, dos pais e de todas as pessoas que fazem parte da nossa história. <3



[Postagem para a disciplina de Museu, Patrimônio e Cidade referente ao encontro do dia 27/06/2017]

CONHECENDO AS HISTÓRIAS DE PETRÓPOLIS

Imagine um local tipicamente rural, com quatro chácaras e uma estrada de chão que cortava esses espaços, chamada de Caminho do Meio. Imagine criações de gado e plantações de agrião. Imagine casas de veraneio construídas nesse local como ponto de refúgio para o forte calor do centro de Porto Alegre. O fim da linha da cidade, a última parada do bonde.
Estou falando do bairro Petrópolis na década de XX que a partir de então passou por vários processos de urbanização e transformação, mas, segundo os moradores, os traços familiares se mantêm até hoje. Com o crescimento da cidade, as famílias se deslocaram para o bairro então afastado e começaram a construir suas casas e montar sua história por ali. Nas últimas décadas o bairro vem sofrendo com a demolição das casas mais antigas para construção de prédios, processo que o coletivo de moradores do Movimento Projeta Petrópolis está tentando estancar através da inventariação de bens arquitetônicos e culturais.

Como combinado na aula anterior, decidimos o projeto que faremos em parceria com os moradores: um pequeno documentário contando as vivências dos moradores mais antigos. Breve, simples, mas cheio de lindas memórias e saudosismo.
Sempre gostei de ouvir pessoas vividas contando suas histórias, carregadas de saudade de um tempo que não volta mais. Sempre aprendemos alguma coisa, então foi um prazer ouvir o primeiro entrevistado, o Seu Edmundo. Que suas memórias da praça, do bonde e da infância possa ser imaginada por todos que o vídeo alcançar.


[Postagem para a disciplina de Museu, Patrimônio e Cidade referente ao encontro do dia 13/06/2017]

sábado, 1 de julho de 2017

RECONHECENDO PETRÓPOLIS

          O curso de Museologia foi procurado pelo Movimento Projeta Petrópolis para juntos pensarmos numa ação cultural a fim de ocupar os espaços públicos do bairro Petrópolis, em Porto Alegre. O Projeta Petrópolis é importante na defesa do patrimônio arquitetônico do bairro, que vem enfrentando há alguns anos um processo de urbanização e verticalização que preocupa os moradores mais antigos, pois bairro vem perdendo o ar de familiaridade.
Confesso que não conhecia o bairro além da Avenida Protásio Alves e fiquei encantada com as árvores e a calmaria do local. Fomos mediados pelo Marcelo Roncato, que nos apresentou a Praça Mafalda Veríssimo, algumas curiosidades sobre as ruas que estão em processo de inventariação, as casas, as pessoas. Ele será a ponte entre a Museologia e os moradores mais antigos que nos contarão suas histórias e experiências por aqui.  A Praça Mafalda Veríssimo, antigamente denominada Praça Buri, possui a caixa d’água que é símbolo do bairro.
      A procura dos moradores demonstra o interesse e a necessidade em preservar e estancar esse processo desenfreado de verticalização. Esperamos que essa parceria entre Museologia e Petrópolis renda bons frutos!


[Postagem para a disciplina de Museu, Patrimônio e Cidade referente ao encontro do dia 30/05/2017]

"QUAL CIDADE QUEREMOS NOS MUSEUS?"

Moro em Porto Alegre há quatro anos e meio e, de certa forma, ainda me considero uma turista. Presa na rotina, vou aos poucos conhecendo essa cidade que não é a minha preferida, mas que certamente tem seus encantos. Felizmente a disciplina “Museu, Patrimônio e Cidade” me permite descobrir alguns desses encantos, como foi o caso da Travessa dos Venezianos, um conjunto de 17 casinhas coloridas preservadas por tombamento pelo município.
Falando em cidade, a palestra da professora Zita Possamai, durante 15ª Semana Nacional de Museus no Museu Joaquim José Felizardo - o museu da cidade, veio a calhar com meu comentário acima. "Não se conhece verdadeiramente um lugar sem visitar o museu da cidade", disse. Com o tema "O museu na cidade, a cidade no museu e o museu de cidade", trouxe em sua fala o papel e as relações entre o trio museu-cidade-pessoas.
Sobre o primeiro aspecto, o museu na cidade, fica clara a importância dos museus quando viajamos para algum lugar novo, por exemplo, pois é dentro dessas instituições que procuramos aspectos referentes às pessoas, à cultura e aos valores locais. Em certos casos, o próprio museu é quem faz a cidade, colocando-a no “mapa” (caso do Guggenheim em Bilbao), ou ainda pode chamar a atenção para um território que até então era ignorado (como o Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre).
A cidade no museu apresenta olhares da cidade dentro de um espaço limitado que é o museu, mas que apresenta infinitas possibilidades de abordagens. Não poderia deixar de citar o exemplo da professora Zita que me encantou: o Museu da Inocência em Istambul. Partindo de um livro, esse museu traz a história da cidade no século XX, o que é muito curioso considerando que o maior atrativo dos turistas é a história milenar de Istambul.
Por último, e mais especificamente, o museu de cidade nos diz muito sobre as escolhas daquilo que está sendo preservado. O que é apresentado ao público? Que história está sendo contada? O que está faltando? Um museu jamais abarcará a totalidade da cidade - e nem deve! - e é essencial entender suas escolhas.
Eu já tive meus altos e baixos com o curso de Museologia, mas meu amor pelos museus nunca esteve em questão. Acho incrível a capacidade que os museus têm de trazer tantas abordagens e temáticas em lugares tão distintos, das grandes cidades às pequenas vilas, mas principalmente por envolver as comunidades em torno da memória e da preservação.


[Postagem para a disciplina de Museu, Patrimônio e Cidade referente ao encontro do dia 16/05/2017]

PARA SEMPRE RUA DA PRAIA

“Rua da Praia: Patrimônio de Porto Alegre” foi um projeto que surgiu a partir da disciplina de Estudos Sobre o Patrimônio Cultural e Museus, ministrada pela professora Márcia Bertotto, através dos esforços dos colegas da Museologia a fim de mostrar as riquezas históricas e patrimoniais da primeira e mais querida rua da cidade de Porto Alegre, a Rua dos Andradas, ou a Rua da Praia. Através da disciplina da professora Zita Possamai, tivemos a oportunidade de realizar a caminhada juntamente com os colegas responsáveis pela realização do projeto.

O Centro Histórico de Porto Alegre é resultado do desenvolvimento econômico e urbano dos séculos XIX e XX. A Rua dos Andradas tinha primeiramente o nome de Rua da Praia, por estar localizada às margens do lago Guaíba, que aos poucos foi aterrado devido a urbanização da cidade e hoje está relativamente distante da rua, mas a denominação original se mantem firme até os dias de hoje. 
Do Gasômetro à Santa Casa, a rua abriga edifícios de diversos estilos arquitetônicos que contam muitas histórias, curiosidades e lendas. Desde o escravo Josino morto em frente a Igreja das Dores, o comércio da Galeria Chaves, os namoros na Confeitaria Princesa, as manifestações de todas as naturezas na Esquina Democrática (Rua dos Andradas com a Borges de Medeiros), sem falar, é claro, dos famosos paralelepípedos em forma de mosaico - que, por sinal, é a cara do projeto dos colegas da Museologia. 
Desde sempre esta rua esteve cheia de pessoas, convivências e barulho, talvez hoje em dia de forma mais caótica que no passado. Na correria, cruzamos a rua cuidando para não bater em outros apressados e não olhamos para cima, onde os edifícios se mostram preservados e remetem outro tempo. É olhando para cima que percebemos como esta rua é carregada de memórias, tantos acontecimentos marcantes.


[Postagem para a disciplina de Museu, Patrimônio e Cidade referente ao encontro do dia 02/05/2017]

segunda-feira, 15 de maio de 2017

PORTO ALEGRE ANTES DE PORTO ALEGRE

Na calmaria da Praça da Alfândega em meio ao fervo do centro de Porto Alegre, os passantes vêm e vão com olhares distantes e despercebidos, esquecendo-se do que está em volta e da longa trajetória que essa cidade já percorreu até chegar ao que é hoje. Difícil imaginar que tudo que está em volta já foi água.
Reunidos entre os caminhos da Praça, nos colocamos a pensar nessa história. Os indígenas já habitavam este pedaço de terra há muito tempo, mas ainda parecem ser esquecidos inclusive na pesquisa científica, principalmente pelas fortes tradições da história oral que acabam perdidas e não alcançam o meio acadêmico. Pensa-se a história de Porto Alegre a partir das terras cedidas às capitanias; da chegada dos açorianos; do Lago Guaíba, ora beirando a Rua da Praia (como o nome sugere), ora aterrado e cada vez mais afastado; mas sempre um importante porto comercial e porta de entrada da cidade. Mais recentemente, entre 1924 e 1928 durante o governo de Otávio Rocha, o período de modernização e “higienização” da cidade, afastando as populações mais pobres para bairros afastados. 
Mas mais do que focar na trajetória, é importante voltarmos ao início de tudo. É imprescindível dar a voz aos invisíveis que ainda estão ali, sentados nas calçadas com os artesanatos dispostos em meio a multidão que passa e não vê. Não vê que esse lugar é direito deles, dos povos que aprendemos na escola a juntar como um só. Guarani, Caingangue, tantas raízes que merecem um local de fala na história de Porto Alegre.


REFERÊNCIA

SOUZA, C. F. de, DAMASIO, C. P. Os primórdios do urbanismo moderno: Porto Alegre na administração Otávio Rocha. In: Estudos urbanos: Porto Alegre e seu planejamento. 1ª ed, Editora UFRGS, 1993.

[Postagem para a disciplina de Museu, Patrimônio e Cidade referente ao encontro do dia 18/04/2017]