sexta-feira, 27 de outubro de 2017

BIODIVERSIDADE NA FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO RS

   A biodiversidade compreende todos os organismos e seres vivos que compõem e equilibram o mundo natural num rico e complexo sistema. A WWF afirma que para entendê-la é preciso considerar "todas as formas de vida, assim como os genes contidos em cada indivíduo, [e os] ecossistemas, na qual a a existência de uma espécie afeta diretamente muitas outras".
      Aqui no estado há uma enorme variedade de biomas e espécies de plantas e animais, sendo alguns de seus símbolos naturais o pássaro quero-quero, o brinco-de-princesa, e não poderia faltar a árvore de erva-mate. Toda essa biodiversidade é de responsabilidade da Fundação Zoobotânica do RS, órgão público importantíssimo na pesquisa, conservação e divulgação através da educação ambiental. Algumas das atividades exercidas pela Fundação: pesquisa e inventariação da fauna e flora, recuperação e resgate da flora, estudos de fósseis. Além disso, é responsável pelo cuidado e manutenção do Zoológico de Sapucaia do Sul, do Jardim Botânico de Porto Alegre e do Museu de Ciências Naturais, e nesses espaços realiza uma série de atividades educativas e culturais voltadas para diversos públicos.
       No âmbito do museu, a cada última quinta-feira do mês é promovido um curso de formação para professores interessados em trazer suas turmas posteriormente ao museu. Neste curso são apresentados a história dos museus num panorama mais abrangente, desde o Mouseion e gabinetes de curiosidade, até chegar no cenário de museus brasileiro. O museu faz questão de desconstruir a ideia de museu como lugar de coisa velha que infelizmente ainda é muito comum até mesmo entre professores. Apresenta, por último, programas educativo-culturais realizados pelo museu ao longo do ano, como por exemplo o "Ciência na Praça" e o "Museu vai à Escola", possibilitando às turmas que não possuem condições de ir até o museu também possam ter uma boa experiência. Também são ofertados cursos especialmente aos professores para que possam aplicar os conhecimentos em sala de aula.
      Os esforços do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica devem ser reconhecidos e devem servir de inspiração, mesmo em meio às dificuldades políticas e as ameaças de fechamento os funcionários persistem e acreditam no potencial e importância da instituição para o Rio Grande do Sul. 
       A Fundação Zoobotânica tem o apoio dos alunos do curso de Museologia da UFRGS.


[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 26/10/2017]

RECONSTRUÇÃO DOS MUSEUS E DO OLHAR DO VISITANTE

        Na Museologia falamos muito de patrimônio histórico e cultural, mas pouco abordamos sobre o patrimônio natural, ou mesmo museus de ciências naturais, tipologia que particularmente acho muito interessante e gostaria de ter maior contato.
      A partir da segunda metade do século XIX com a criação do conceito de "ecologia", os museus precisam ser reconceituados e adaptados a partir de novas disciplinas científicas, pois surge uma necessidade de ir além dos inventários e da catalogação de objetos, considerando também os processos naturais e sociais que envolvem estes objetos, mudando o ponto de vista do fim para os meios. Nesse sentido surge o conceito de patrimônio intangível no qual a Ciência se aplica. A partir de 1930 surgem os centros de ciência em contrapartida aos chamados "antimuseus" que continuavam com a premissa de que os objetos são mais importantes que o processo de pesquisa que os envolvem.
       Atualmente os museus de ciências também são constantemente vinculados com a tecnologia, termo que confunde muitos profissionais de museu, uma vez que muitas dessas instituições consideram apenas aparatos tecnológicos sem levar em conta os processos científicos. Não que a tecnologia seja inimiga dos museus, muito pelo contrário, mas é importante deixar claro que os estudos científicos demandam tempo e esforço que não devem ser desmerecidos ou esquecidos com a rapidez do touchscreen. 
       Outra questão que envolve os museus de ciências naturais são os conceitos de autêntico e réplica, que se diferem das demais tipologias de museus. Em escavações arqueológicas, por exemplo, é muito comum que se encontrem apenas pequenos fragmentos de um objeto ou ser vivo muito maior, e é a partir desse fragmento que se fazem os estudos. As reconstruções são muito importantes tanto para a pesquisa científica quanto para a compreensão e visualização do visitante leigo. O problema reside na omissão do uso de réplicas, dando a entender que aquilo que se vê no museu é, na verdade, o original.
        Nesse sentido, a educação em museus é essencial para tensionar o olhar do visitante para essas questões e questioná-lo, para que não observe apenas o objeto mas sim toda a cenografia que compõe a exposição do museu.


REFERÊNCIA

VAN-PRÄET, Michel. A educação no museu, divulgar "Saberes Verdadeiros" com "Coisas Falsas". In: GOUVÊA, G.; MARANDINO, M.; LEAL, M.  C. (Orgs.). Educação e museus: a construção social do caráter educativo dos museus de ciências. Rio de Janeiro: Access, 2003.

[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 05/10/2017]

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

OS OBJETOS MUITO ALÉM DA MATERIALIDADE

O primeiro livro relacionado a museus que li foi "A danação do objeto", de Francisco Régis Lopes Ramos, quando estava no ensino médio. Não entendi nada e me perguntei se deveria mesmo cursar Museologia. Hoje, com 5 anos de experiência, vejo que o texto é, na verdade, muito básico. Todo museológo deve saber que um objeto de museu perde sua função primordial e adquire novos valores ao ser musealizado.
As ações educativas têm importante papel na relação entre visitante e objeto, criando formas de aproximação entre os dois levando em consideração as necessidades socioculturais em que o público vive. Mais do que isso, uma exposição por si só já deve suscitar questionamentos e reflexões, o que Paulo Freire chama de "pedagogia da pergunta".
Questionar o presente e as relações estabelecidas com objetos do cotidiano permitem uma melhor compreensão do passado e das escolhas de preservação. É problematizar o passado através do presente, pois o passado não é uma história finita sem conexão com o hoje.
Em uma ação educativa proposta em aula, sorteamos um objeto corriqueiro como boné, cuia para chimarrão, artesanato indígena, entre outros. De que formas podemos transformar um simples objeto em reflexões sobre a atualidade? No nosso caso, o artesanato indígena sorteado pode trazer várias questões sobre a realidade das tribos nos dias atuais, consequência do que foi vivido no passado.
                        
                            
                                  REFERÊNCIA
RAMOS, Francisco Régis Lopes. A danação do objeto - o museu no ensino de História. Chapecó: Argos, 2004. p.19- 36; 129-146.

[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 21/09/2017]

terça-feira, 24 de outubro de 2017

EDUCAÇÃO EM MUSEUS: MUDANÇAS DE PENSAMENTO

         A educação em museus parte de um processo evolutivo que está ligado com a criação dos museus públicos, lá no século XVIII. Quando os museus ainda davam seus primeiros passos, o acesso às obras e objetos exóticos era privilégio apenas da elite. O movimento nacionalista que ocorreu na França deu início aos museus abertos ao público em geral, como foi o caso do Louvre. O objetivo de abrir as portas era educar não só a elite, mas todo o povo.
      Aqui no Brasil o Museu Real surge inicialmente para atender apenas pesquisadores e estudiosos, em 1818. Mais tarde, ainda no século XIX, descobre-se o potencial que as exposições têm para complementar no ensino escolar, e então o museu amplia a variedade de visitantes. Isso acontece principalmente por iniciativa republicana, uma vez que um povo educado teria maior consciência política. No entanto, é preciso destacar que aqui o processo educativo se caracteriza como um efeito disciplinar e que não leva em conta a bagagem cultural e individual do visitante. Em 1911 percebe-se a complementaridade entre museu e escola e é criado, então, um projeto de museu escolar, prática que já era bastante comum em países europeus.
     Essa nova forma de entender o papel do museu permitiu vários aprimoramentos no Museu Nacional, e em 1932 foram contabilizados 2282 alunos que frequentaram a sala de conferência do museu, número que é bastante alto se considerar o acesso à educação da época.
           Hoje a percepção de educação em museus é muito mais aprofundada e vai muito além de ações educativas e atividades lúdicas realizadas durante uma exposição, mas é interessante perceber que desde sempre a educação foi uma preocupação dos museus, mesmo com seu caráter disciplinar.


                                              REFERÊNCIA

KOPTCKE, Luciana Sepúlveda; LOPES, Maria Margareth; PEREIRA, Marcelle. A construção da relação Museu-Escola no Rio de Janeiro entre 1832 e o final dos anos de 1927. Análise das formas de colaboração entre o Museu Nacional e as instituições da educação formal. XXIV Simpósio Nacional de História, 2007. 

[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 14/09/2017]