sexta-feira, 27 de outubro de 2017

RECONSTRUÇÃO DOS MUSEUS E DO OLHAR DO VISITANTE

        Na Museologia falamos muito de patrimônio histórico e cultural, mas pouco abordamos sobre o patrimônio natural, ou mesmo museus de ciências naturais, tipologia que particularmente acho muito interessante e gostaria de ter maior contato.
      A partir da segunda metade do século XIX com a criação do conceito de "ecologia", os museus precisam ser reconceituados e adaptados a partir de novas disciplinas científicas, pois surge uma necessidade de ir além dos inventários e da catalogação de objetos, considerando também os processos naturais e sociais que envolvem estes objetos, mudando o ponto de vista do fim para os meios. Nesse sentido surge o conceito de patrimônio intangível no qual a Ciência se aplica. A partir de 1930 surgem os centros de ciência em contrapartida aos chamados "antimuseus" que continuavam com a premissa de que os objetos são mais importantes que o processo de pesquisa que os envolvem.
       Atualmente os museus de ciências também são constantemente vinculados com a tecnologia, termo que confunde muitos profissionais de museu, uma vez que muitas dessas instituições consideram apenas aparatos tecnológicos sem levar em conta os processos científicos. Não que a tecnologia seja inimiga dos museus, muito pelo contrário, mas é importante deixar claro que os estudos científicos demandam tempo e esforço que não devem ser desmerecidos ou esquecidos com a rapidez do touchscreen. 
       Outra questão que envolve os museus de ciências naturais são os conceitos de autêntico e réplica, que se diferem das demais tipologias de museus. Em escavações arqueológicas, por exemplo, é muito comum que se encontrem apenas pequenos fragmentos de um objeto ou ser vivo muito maior, e é a partir desse fragmento que se fazem os estudos. As reconstruções são muito importantes tanto para a pesquisa científica quanto para a compreensão e visualização do visitante leigo. O problema reside na omissão do uso de réplicas, dando a entender que aquilo que se vê no museu é, na verdade, o original.
        Nesse sentido, a educação em museus é essencial para tensionar o olhar do visitante para essas questões e questioná-lo, para que não observe apenas o objeto mas sim toda a cenografia que compõe a exposição do museu.


REFERÊNCIA

VAN-PRÄET, Michel. A educação no museu, divulgar "Saberes Verdadeiros" com "Coisas Falsas". In: GOUVÊA, G.; MARANDINO, M.; LEAL, M.  C. (Orgs.). Educação e museus: a construção social do caráter educativo dos museus de ciências. Rio de Janeiro: Access, 2003.

[Postagem para a disciplina de Educação em Museus referente ao encontro do dia 05/10/2017]

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